segunda-feira, 18 de abril de 2011

Não pagamos ou renegociamos a dívida?

Há quem, perante o escândalo dos especuladores que emprestam dinheiro, lance o slogan “Não Pagamos!”. Mas talvez fosse mais cordato insistir no “Renegociamos!” O exemplo veio da Islândia.
A Islândia – um pequeno país, ilha com cerca de 320 mil habitantes, e que durante muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças às “magias” bancárias – foi o primeiro país a ir à bancarrota com a crise financeira, em 2007, por causa do seu endividamento excessivo e pela falência do seu maior Banco que, como todos os outros, se afogou num oceano de crédito mal parado. Praticamente os mesmos motivos pelos quais tombaram a Grécia, a Irlanda e Portugal. O Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder desde a sua independência em 1944, levou o país à miséria, pactuando com a corrupção que grassou no país, sobretudo a nível bancário, e, aflito, pediu ajuda ao FMI. Claro que este aceitou ajudar a troco de empréstimos a juros elevadíssimos, a começar em 5,5%, traduzindo-se num empenhamento das famílias islandesas pelo menos a 30 anos, sendo uma parte substancial do empréstimo utilizado para pagar o buraco financeiro do Banco Islandês!
Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos despojados dos velhos políticos corruptos, com uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas dos Bancos e seus credores. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora aguentar com os seus próprios prejuízos. Nunca o povo anónimo!
O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo, tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições usurárias do FMI. Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização de novas eleições. Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística!) de 2009, a Islândia foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca e corrupta classe política que os tinha levado àquele estado. Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 34 dos 63 deputados da Assembleia. Daqui saiu um Governo totalmente renovado, dirigido por uma Mulher – as mulheres são mais capazes de grandes feitos que os homens! – com um programa muito objectivo: aprovar uma nova Constituição, acabar com a economia especulativa em favor de outra produtiva e exportadora, e tratar de ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o fazer, pois numa fase daquelas, ter moeda própria (coroa finlandesa) e ter o poder de a desvalorizar para implementar as exportações, era fundamental. Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país, com o inevitável aumento de impostos e uma reforma fiscal severa. Os cortes na despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não cortar nos serviços públicos essenciais, separando-se o que o era de facto, de outro tipo de serviços que haviam sido criados ao longo dos anos apenas para satisfazer clientelas partidárias. As negociações com o FMI foram duras, mas os islandeses não cederam, e conseguiram os tais empréstimos de que necessitavam a um juro máximo de 3,3% a pagar nos tais 30 anos.
O FMI aceitou. E a Islândia foi o exemplo de como se deve recorrer à ajuda externa, tendo saído da recessão em menos de dois anos, sem se tornar escrava dos especuladores internacionais, a começar ou a acabar no FMI!
Ah, quem dera que Portugal lhe seguisse o exemplo!

5 comentários:

  1. Pois eu não sei se Portugal futuramente terá
    possibilidades de pagar na totalidade...
    O melhor seria não se dever...mas os nossos
    políticos...
    Um bj.

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  2. Sim,também penso que a dívida deveria ser renegociada, mas em primeiro lugar, deveríamos vender as pessoas em quem confiamos para nos governarem e que afinal nos conduziram a este estado.Gostei do seu texto anterior,mas tenho muito pena de já não viver o suficiente para poder ver os resultados da execução daquelas belas ideias.Esta gente não está interessada nisso.Um abraço

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  3. Olá, Irene, sempre silenciosamente ouvindo...
    Os credores são implacáveis! Se não pagarmos, nem teremos dinheiro nem para o essencial da nossa economia nem para suportar o Estado Social que criámos. Obviamente, com benesses a mais, pois não correspondem ao PIB ou produtividade nacional. Ora, quem consome mais do que produz tem forçosamente de ser escravo de alguém. É bonito falar em liberdade mas essa tem de corresponder ao vil metal com que se assegura tal liberdade...
    Saudações cordiais!

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  4. Caríssimo Veríssimo,
    Como diríamos antigamente, com razão, hoje talvez com mais ainda, embora noutra perspectiva, "A luta continua!" E a esperança é a última a morrer. É por isso que eu defendo que se tem de interagir de dentro para fora, integrando-nos no sistema. Neste caso, partidário, para se atingir o económico e finalmente ou concomitantemente o financeiro. Primeiro, a nível nacional, depois, internacionalmente: o escândalo do corrupto sistema financeiro mundial terá de acabar. Não sei como, claro!
    Apareceu aí um novo partido Forum Esperança Portugal. Vou aquilatar da sua credibilidade. Talvez seja um bom ponto de partida.
    Saudações.

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  5. OK, Francisco, fico à espera do novo partido, pois dos que existem actualmente nenhum me interessa.
    Já comprei e li o seu livro "Um mundo governado por mulheres".Gostei do livro pelos ensinamentos que colhi,mas o título do livro é mesmo a brincar, não é?

    Saudações
    Verissimo

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