domingo, 27 de fevereiro de 2011

O paradigmático exemplo do papel higiénico

“Quando todos os indianos e chineses pobres começarem a usar papel higiénico, acabar-se-ão as árvores no mundo” – dizia, por graça, um guia turístico numa viagem qualquer, ao Nordeste da Europa.
A afirmação, à primeira vista inócua, afinal, tem muito de real. Sem quaisquer dados que o suportem, poderá conjecturar-se que apenas um quarto da humanidade usa papel higiénico. Claro que muitos destes utentes usam e abusam, gastam como se as matérias-primas não mais acabassem nem fossem roubadas a habitats onde vivem – agora, sobrevivem ou desaparecem! – outras espécies animais com o mesmo direito à vida como nós. Basta ver o que se passa em hotéis, spas, ginásios, piscinas, etc.
Ora, todos os outros quatro a cinco biliões de seres humanos têm o mesmo direito ao papel higiénico que os já utentes – uma minoria! – e, a breve trecho, quererão usufruir de tal direito. Então, como será? Onde arranjar matéria-prima para tanto papel? As florestas já são dizimadas para a venda de madeira – e tem de se reconhecer que essa actividade constitui o ganha-pão de muitos pobres da Amazónia, África equatorial, Bornéu, etc. – para a plantação de palma, soja e milho, não só para consumo humano e animal mas também para a produção falsamente “verde” de bio-diesel, ou simplesmente pastagens que alimentem o gado, já não falando nos incêndios que as dizimam em milhões de hectares, verão após verão – verões que vão sendo cada vez mais agressivos devido às alterações climáticas, pelo efeito de estufa dos gases poluentes originados nos próprios incêndios, nos vulcões, nos combustíveis fósseis usados em transportes e na produção de electricidade. Teremos ainda de acrescentar a estes factores nefastos para a floresta, a pasta para papel a usufruir por todo o “mundo”? – Será a catástrofe ambiental total, minhas senhoras e meus senhores! O Homem de hoje, movido apenas pelo consumo para o qual apelam todas as publicidades alimentadas pelos sistemas económico-financeiros que nos (des)governam, vai destruir-se a si e, sobretudo, aos seus filhos e netos, destruindo o habitat em que vive, não tendo mais ar puro para respirar, ele e os seus descendentes! E tudo isto em nome de um bem-estar que tenderá a ser global, mas bem-estar incomportável com a sustentabilidade ambiental sem a qual ele não poderá sobreviver! Grande inteligência a deste Homem, não há dúvida! Mas o mesmo Homem não tem o direito de fazer isto aos seus descendentes. Os seus ascendentes deixaram-lhe uma Terra onde era agradável viver; ele terá de fazer outro tanto para os seus vindouros!...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Não valem a pena as revoluções se...

Escrevi, comentando um texto do blog que também se debruça a nível mundial sobre estes temas (http://outrapolitica.files.wordpress.com):
«Já é tempo de, em vez de se falar de segurança social, de desemprego, de pobres e de desigualdades, pôr o problema onde deve ser colocado:
1 - No sobrepovoamento do Planeta, com falta de planeamento familiar, sobretudo nos países mais pobres: já atingimos a aterradora cifra de 7 mil milhões!
2 - No insucesso total dos modelos económico-financeiros que regem o mundo e que o estão atirando para uma catástrofe global, quer social, quer ambiental.
Porque não se colocam os problemas do mundo nestes termos? É difícil? Não haverá soluções? Ninguém terá força para acabar com ignorâncias que levam ao sobrepovoamento, ou destronar poderes instalados que querem manter os sistemas que lhes permitem usufruir, sozinhos, de todos os recursos da Terra, exaurindo-os em seu proveito (Recorde-se que 5% da população mundial possui 95% da riqueza produzida no mundo!), sistemas que, a continuarem em vigor, jamais permitirão o pleno emprego ou a satisfação das necessidades básicas de toda uma população?
O exemplo vindo do Cairo será um primeiro passo. Mas não o único até porque o que os jovens fundamentalmente querem é emprego e bem-estar, os pobres, sair da pobreza, o que, no limite, significa os mesmos emprego e bem-estar. Mas ninguém se interroga sobre os modelos actuais de criar emprego: desenvolver a economia, criando riqueza, através da produtividade, concorrência, exportação, lucro. Ora, como provo no meu blog "Ideias-Novas" e no meu livro "Um Mundo Liderado por Mulheres", isto é insustentável a curto-médio prazo. Aliás, convido todos a fazerem deste blog uma plataforma de arranque e a criarem outros como os mesmos objectivos, a nível mundial, em ordem a uma mudança de paradigmas de criar riqueza e de diminuir a população, evitando-se também o flagelo da emigração que atinge os países pobres, cada país tendo que cuidar dos seus cidadãos e não permitindo nascimentos que não correspondam à capacidade de sustento dos que vão nascendo e engrossando a sua população.
Estes são realmente os pontos fulcrais a enfrentar e a debater para que os problemas do mundo se atenuem, tanto a nível ambiental como social. Nada adianta fazer revoluções com outros objectivos que não estes!»
Ao que se acaba de dizer, certamente não será necessário acrescentar, repetindo-nos, que a economia de um país não poderá continuar a crescer ad infinitum, para continuamente criar novos postos de trabalho, manter o pleno emprego e cuidar dos seus velhos que, cada vez, com a esperança de vida a aumentar, serão mais numerosos, primeiro, nos países desenvolvidos, depois, em todo o mundo. É que não há recursos para tanto ou... para tantos!!!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Um plafond de riqueza, porque não?

Antes de abordar o assunto, permitam-me recordar que os textos-base deste blog – Sustentabilidade 1-7 e Modus operandi 1-7 – foram publicados em Julho/Agosto de 2010. A quem só há pouco aqui chegou, sugeria-se uma releitura daqueles textos para melhor se integrar na dinâmica da mudança que se propõe. Posto isto, o assunto de hoje.
Visando uma nova sociedade, com novos modelos económico-financeiros que determinariam, obviamente, novas políticas, preconiza-se um plafond de riqueza para os indivíduos singulares e também para as sociedades empresariais que não quisessem reinvestir os seus ganhos. Mas, sobretudo, para aqueles. Nada justifica, em nome de uma suposta liberdade de enriquecimento, permitir tal coisa a indivíduos dentro de uma sociedade bem organizada: as liberdades têm de ter limites, além de que “A minha liberdade acaba onde a liberdade dos outros começa.”
E, enquanto vigorar o modelo económico-financeiro actual, baseado num liberalismo eocnómico e num capitalismo que, em muitos casos, é selvagem, pois sem controle de qualquer entidade credível, a nível global, ter-se-á de criar essa entidade, entidade supra-nações, aceite por todos os países, para que o controle seja eficiente. Mais uma vez, todos gritarão: “Utopia! Utopia!” É! Será utopia enquanto o Homem quiser! Enquanto as massas pobres e famintas da Terra não se levantarem e, mesmo morrendo em combate – pacífico ou violento?! –, não tolerarem tal estado de coisas, (o exemplo acaba de nos chegar do Egipto!), depondo de seus pedestais todos os senhores da Terra que a controlam, tendo usurpado o Poder e constituído leis que os protegem e protegem esses mesmos poderes. E, infelizmente, com o beneplácito, e mesmo com o voto do mesmo povo. Enganado, está claro! Rendido ao fatalismo que lhe inculcaram na mente, apoiando-se tais senhores nas religiões que pactuam com tais regimes... O maior escândalo é-nos chegado da Índia e do hinduísmo: quem se revoltar contra a sua situação actual, na próxima encarnação será castigado e será ainda pior ou deixará mesmo de pertencer à raça humana, encarnando em bicho ou verme... O cúmulo! E, assim, minhas senhoras e meus senhores, os párias jamais se revoltarão contra a classe dirigente, sacerdotal e guerreira, classes que saíram da cabeça e do braço do Deus-Criador Brama, quando os párias saíram de seus pés, para sempre rastejarem aos pés daqueles...
Ah, quem levara a essas centenas de milhões que assim vivem acorrentados nas suas consciências, a luz da Ciência e do Conhecimento!...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A tirania do lucro

Todos estamos tiranizados pelo lucro. As sociedades estão organizadas para que toda a economia dê lucro e, através dele, se desenvolva, aumente o PIB per capita, seja competitiva, crie recursos para se criarem novas empresas e, com elas, novos postos de trabalho, aumentando o bem-estar das populações, satisfazendo as suas legítimas aspirações. Até parece estar tudo certo. Mas não! Pensando à escala global, visando uma humanidade sustentável num mundo sustentável, estará quase tudo errado.
Primeiro, deveria pensar-se que o PIB de um país não pode continuar a crescer indefinidamente. Como já frisámos noutros textos (mas voltaremos ao assunto), os impactos negativos a nível global ambiental que isso produz não serão, a curto-médio prazo, sustentáveis; assim, as sociedades e os povos já desenvolvidos não poderão continuar a ser aliciados pelos seus governantes para esta insustentável subida contínua do nível de vida. Segundo, sujeitam-se os agentes económicos a um stress que não gera qualidade de vida: nem pessoal, nem grupal e muito menos familiar: os pais, absortos na sua profissão onde têm de ser altamente produtivos para que as suas empresas sejam competitivas à escala global, trabalhando horas para além do humanamente aceitável, ficam sem tempo para o que lhes deveria ser mais caro e mais absorvente: os filhos. A todos os níveis: afectivo, desenvolvimental, físico e psicológico, num saudável equilíbrio entre uns e outros. Já nem falamos das penalizações de que, nas suas empresas, são vítimas as mulheres que engravidam e que, por isso, se retraem nessa função, função primordial, já que sem ela a espécie não sobrevive.
Enfim, fossem outros os padrões de sociedade, outros os modelos económico-financeiros, bem diferentes destes que nos acorrentam a todos, e o mundo seria mais feliz. O Homem viveria mais em equilíbrio consigo mesmo e com a Natureza de que, no fim, depende totalmente: terra, água, ar, luz e... calor! É que a qualidade de vida afere-se muito mais pelo SER do que pelo TER a que nos convida permanentemente este ambiente social, controlado pelo desregrado modelo económico-financeiro, em que vivemos.
A mudança urge, pois!